Entendendo o Funcionamento e a Importância do Escorvamento em Bombas: Por Que a Bomba Não Pode Trabalhar Seco

Autora: Maria Isabel Landim Neves

Quando falamos sobre o funcionamento de bombas em sistemas de sucção, muitas vezes surgem dúvidas sobre como garantir que a bomba comece a operar de maneira correta e eficiente. Um conceito essencial para evitar danos e garantir o bom desempenho da bomba é o escorvamento. Neste post, vamos explicar o que é o escorvamento, o que pode acontecer quando ele não é feito corretamente, e por que a bomba não pode trabalhar “seca” ou com ar dentro dela. Vamos também falar sobre as bombas autoescorvantes, uma solução para situações onde o escorvamento seria difícil ou impossível.

O Que é o Escorvamento?

Antes de entender o que pode acontecer se a bomba começar a operar sem o escorvamento adequado, vamos entender o conceito. O escorvamento é o processo de garantir que a bomba esteja cheia de líquido antes de ser ligada, e não com ar ou gás dentro dela. Isso é importante porque, em sistemas de sucção, quando a bomba é instalada acima do nível do fluido, a instalação cria uma pressão negativa na tubulação. Como resultado, o fluido precisa ser “puxado” para dentro da bomba para que ela possa começar a funcionar corretamente.

Quando a bomba é ligada sem escorvamento, ela começa a operar sem fluido suficiente, o que pode levar a uma série de problemas graves, como o desgaste da vedação e o aumento do risco de cavitação. Agora, vamos entender melhor esses conceitos.

O Problema da Bomba Trabalhar “Seca”

Quando a bomba é ligada sem estar cheia de fluido, ela começa a operar com ar ou gás dentro dela, o que pode causar vários problemas, como:

  1. Desgaste da Vedação: A vedação da bomba, que é responsável por evitar vazamentos e garantir o bom funcionamento, não foi projetada para trabalhar sem fluido. Ela precisa de lubrificação para funcionar corretamente. Quando a bomba trabalha seca, essa lubrificação não ocorre, o que pode danificar a vedação e até levar à falha prematura da bomba.
  2. Cavitação: A presença de ar na bomba pode facilitar o processo de cavitação. A cavitação ocorre quando a pressão do fluido dentro da bomba cai abaixo da pressão de vapor do líquido, formando pequenas bolhas de vapor. Essas bolhas, ao se moverem para áreas de maior pressão, implodem violentamente, causando danos às partes internas da bomba, como o impulsor e a carcaça. Isso reduz a eficiência da bomba e pode causar sérios danos aos componentes internos.
  3. Fluxo Instável e Menor Eficiência: Quando o fluido na bomba está misturado com ar, a densidade da mistura é menor, o que dificulta o processo de sucção e reduz a eficiência da bomba. A bomba precisa gerar uma pressão suficiente para mover o fluido, mas a mistura de ar e líquido pode interferir nesse processo, tornando a operação menos eficiente.
  4. Ruídos e Vibrações: A mistura de ar e líquido também pode gerar flutuações de pressão e causar vibrações e ruídos excessivos no sistema, que não são apenas incômodos, mas também podem indicar que o equipamento está em risco de falhar.

 

Como Evitar Esses Problemas?

A melhor forma de evitar todos esses problemas é garantir que a bomba esteja escorvada antes de ser ligada. O escorvamento pode ser feito manualmente, preenchendo a bomba com o fluido antes de iniciar a operação, ou utilizando sistemas automáticos que fazem esse processo de forma contínua.

Uma maneira prática de garantir que a bomba tenha fluido suficiente para operar é a instalação de sensores de nível. Esses sensores podem ser instalados no tanque de sucção ou na tubulação, para monitorar o nível do fluido. Caso o nível de fluido esteja abaixo do necessário, a bomba não deve ser ligada, evitando que ela trabalhe “seca”.

Bombas Autoescorvantes: A Solução Para Casos Especiais

Em algumas situações, o escorvamento manual pode ser difícil ou impossível. É o caso de sistemas onde a bomba é instalada acima do nível do fluido e não há uma maneira simples de preencher a bomba antes de ligá-la. Para esses casos, uma solução ideal é o uso de bombas autoescorvantes.

As bombas autoescorvantes são projetadas para fazer o próprio escorvamento automaticamente. Isso significa que elas conseguem puxar o fluido para dentro delas mesmo quando não estão inicialmente cheias. Esse tipo de bomba é frequentemente utilizado em sistemas como:

  • Recepção de leite: onde a bomba precisa succionar o leite diretamente de caminhões, muitas vezes em situações em que não há fluido na tubulação.
  • Sistemas de CIP (Cleaning in Place): nas etapas de limpeza de sistemas, onde a bomba precisa iniciar seu trabalho sem fluido.

No entanto, é importante ter em mente que as bombas autoescorvantes têm algumas limitações:

  1. Altura Geométrica de Sucção: Uma bomba autoescorvante não deve ser usada para sucções acima de aproximadamente 10 metros de coluna de água (mca). Isso ocorre porque, quanto maior a altura de sucção, mais difícil é para a bomba puxar o fluido, e a capacidade de escorvamento pode ser comprometida.
  2. Custo e Eficiência: Bombas autoescorvantes são mais caras do que as bombas centrífugas convencionais e possuem menor eficiência, principalmente quando comparadas a uma centrífuga do mesmo tamanho e especificação. Por isso, o uso de bombas autoescorvantes deve ser considerado quando for absolutamente necessário.

 

Conclusão: A Importância do Escorvamento e do Uso Adequado da Bomba

O escorvamento é um passo essencial para garantir que sua bomba funcione de maneira eficiente e sem danos. Nunca deixe uma bomba trabalhar seca ou com ar dentro dela, pois isso pode levar a falhas mecânicas graves, aumento do consumo de energia e até a perda de eficiência. Para sistemas onde o escorvamento manual não é possível ou prático, as bombas autoescorvantes são uma excelente opção, embora com algumas limitações de altura e eficiência.

Ao entender esses princípios e aplicar as práticas corretas de escorvamento, garante o bom funcionamento e a longevidade do seu sistema de bombeamento. Além disso, saber quando utilizar sensores de nível ou bombas autoescorvantes pode ajudar a otimizar a operação e evitar problemas futuros.

Exemplo de bomba autoescorvante. A pequena tubulação destacada que faz com que a bomba fica escorvada, pois o ar/gás passa por essa pequena tubulação, garantindo que a bomba funcione bem.

Sugerimos que assista o vídeo sobre bombas autoescovantes na área “vídeos